Toda menina sonha com o seu primeiro sapato de salto alto, aquele calçado que deixa o calcanhar mais elevado do que os dedos e que na maioria das vezes é usado pelo sexo feminino, sem preconceitos, é claro. Ah, o salto alto!
Comigo não foi diferente: eu era pequena, não lembro exatamente a idade, estava na fase das sandálias da Xuxa, quer dizer, eu não estava na fase, a fase é que, obrigatoriamente, estava em mim. Aquelas sandálias magníficas, elegantíssimas, e eu usando sandália de plástico brilhante. Mas o mais entedioso era escutar de minha mãe que salto alto era coisa de gente grande. “Mas mãe eu quero, eu quero e eu quero”. E eu ganhei! Sim, eu ganhei: era linda, dourada, brilhante, salto médio na verdade, mas para mim era alto e lindo, uma tira fina na frente e duas que trançavam no tornozelo, me sentia uma princesa, ou melhor, uma rainha. Minha primeira sandália de salto alto. MINHA PRIMEIRA SANDÁLIA DE SALTO ALTO. Era incrível!
Andava de salto alto dentro de casa, ia na padaria, no mercado, no barzinho do lado de casa onde meu pai tomava aquela cervejinha, só não usava para ir à escola, mas bem que eu queria. O “toc toc” do barulho do salto ao caminhar me transmitia uma sensação de crescimento, de ser mulher.
Mostrar dor nos pés ou nas pernas, nem pensar. Já pensou minha mãe tirar minha sandália, minha adorável sandália, por reclamações de dores? Era inevitável que minha postura não fosse das melhores. A pouca prática no uso me entregava: pernas tortas e bambas faziam a graça dos que me “admiravam” com minha linda sandália dourada brilhante. Mas nada disso importava, o que eu queria mesmo eu havia conquistado. Minha primeira sandália de salto alto.